Movimento Negro Unificado

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Revisão de 04h10min de 11 de setembro de 2024 por Bruno Cesar Dias (discussão | contribs) (Com a criação do Movimento Negro Unificado, em 1978, a forma de enfrentar o racismo e a discriminação racial no país ganhou novas expressões e ampliou sua capacidade política de articulação, incidindo nos campos da participação social, educação, cultura, gênero e sexualidade e, a partir dos anos 2000, nas temáticas de saúde nos territórios de favelas)
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Com a criação do Movimento Negro Unificado, a forma de enfrentar o racismo e a discriminação racial no país ganhou novas expressões e ampliou sua capacidade política de articulação.

A criação do movimento foi uma resposta a dois eventos de discriminação racial acontecidos na cidade de São Paulo nos primeiros meses do ano de 1978: o impedimento da participação de quatro garotos negros do time infantil de voleibol do Clube de Regatas Tietê; e a prisão, tortura e morte de Robison Silveira da Luz, trabalhador e pai de família nas dependências do 44º Distrito Policial, no bairro de Guaianases, devido a acusações de roubo de frutas numa feira livre.

As articulações começaram em junho, lideradas por atletas e artistas negros e algumas entidades e organizações já estabelecidas, como o Centro de Cultura e Arte Negra – CECAN, Grupo Afro-Latino América, Associação Cultural Brasil Jovem, Instituto Brasileiro de Estudos Africanistas – IBEA e Câmara de Comércio Afro-Brasileiro. Em plena ditadura civil-militar, a ato de lançamento aconteceu em 7 de julho de 1978, nas escadarias do Teatro Municipal da Cidade de São Paulo, reunindo duas mil pessoas, entre militantes das causas populares das periferias de São Paulo, profissionais das áreas da saúde e da educação, políticos e intelectuais, como Lélia Gonzales e Abdias do Nascimento. Prisioneiros da Casa de Detenção do Carandiru enviaram um documento no qual denunciaram as condições desumanas em que viviam os presos e o racismo do sistema judiciário e do sistema prisional, integrando o MNU como Centro de Luta Netos de Zumbi. Do Rio de Janeiro, se somaram o Instituto de Pesquisa das Culturas Negras – IPCN, o Centro de Estudos Brasil África – CEBA, a Escola de Samba Quilombos, o Renascença Clube, o Núcleo Negro Socialista, o grupo Olorum Baba Min, Sociedade de Intercâmbio Brasil África – SINBA, além de manifestações de apoio de entidades negras da Bahia.

Em sua Assembleia fundacional, a organização aprovou a proposta inicial do Grupo Palmares, de Porto Alegre, em transformar o 20 de Novembro, data estimada da morte de Zumbi dos Palmares, um dos principais comandantes do Quilombo dos Palmares, um exemplo de luta e dignidade para os negros e todos os brasileiros, instituindo assim as celebrações do Dia Nacional da Consciência Negra.

No início da década de oitenta, o MNU, o Jornal Lampião e o Grupo Somos realizaram inúmeros atos e passeatas conjuntas contra ações policiais que prendiam negros, homossexuais e prostitutas de forma humilhante e desrespeitosa na região chamada Boca do Lixo, no centro de São Paulo. O MNU construiu ações também à Sociedade Brasileira Para o Progresso da Ciência - SBPC, para a denúncia do racismo na Educação, nos meios de comunicação e no sistema prisional.

O tema da saúde veio a ganhar espaço nos debates do MNU a partir dos anos 2000, em projetos com a Fundação Oswaldo Cruz - Fiocruz, liderados pela Coordenação de Cooperação Social da Presidência da Fundação, nos quais são articuladas pautas da luta antirracista e da organização popular nos territórios de favelas.

O projeto Saúde na favela pela perspectiva antirracista objetiva a formação em Promoção da Saúde com acolhimento, escuta ativa, e enfoque antirracista voltada para moradores de quatro favelas do Rio de Janeiro que tenham passado por violações de direitos humanos. Também visa analisar as demandas locais frente a disponibilidade de serviços psicossociais para moradores dessas favelas na perspectiva antirracista do compartilhamento de Saberes Ancestrais, sobretudo reconhecendo e valorizando tais saberes que estão presentes nos quatro lugares de atuação do projeto. O projeto é realizado pela Coordenação de Cooperação Social da Fiocruz, em parceria com o Movimento Negro Unificado (MNU) e conta com o apoio da Biblioteca Parque de Manguinhos, do Centro de Referência Para a Saúde da Mulher (Cresam), da Associação Brasileira Terra dos Homens, do Projeto Cultural Arte Transformadora, da Igreja Batista Central do Centenário e do Centro Comunitário Irmãos Kennedy. O documentário Saúde antirracista na favela, é possível? e a cartilha Saúde na favela numa Perspectiva antirracista são dois produtos desse projeto, lançados em 12 de dezembro de 2023.