A participação social diante da emergência climática

De Mapa movimentos
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Webinário MapaMovSaúde - Emergência Climática
Webinário MapaMovSaúde - Emergência Climática

Webinário do MapaMovSaúde reúne movimentos e coordenação da 5ª Conferência Nacional do Meio Ambiente em conversa que aponta a relação entre saúde, clima e democracia

O Mapa Colaborativo dos Movimentos Sociais em Saúde (MapaMovSaúde) realizou seu primeiro webinário em 28 de outubro com o tema “Emergência climática e o papel da participação social no processo de transição socioecológica”.

O papo reuniu Sergio “Chocolate” Reis, representando o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST); Moisés Borges, pelo Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB); e Marta de Freitas, do Movimento pela Soberania Popular na Mineração (MAM). Contou ainda com a participação da coordenadora executiva da 5ª Conferência Nacional do Meio Ambiente (CNMA-2025), Larissa Barros.

A conversa foi mediada pela chefe da Assessoria de Participação Social e Diversidade do Ministério da Saúde (APSD/MS), Lucia Souto; e pelo presidente do Conselho Nacional de Saúde (CNS), Fernando Pigatto.

“Escolhemos este tema para este primeiro webinário do MapaMovSaúde por entender que a mudança estrutural do clima tem uma correlação muito forte com a saúde dos povos, e precisamos nos preparar e nos organizar para este desafio”, destacou Lucia Souto na sua fala de boas-vindas, ressaltando que os movimentos convidados têm experiências cotidianas e inovadoras nas questões ambientais e que o governo federal estabeleceu ações entre diversas assessorias de participação social em torno do Plano Clima Participativo.

Para Fernando Pigatto, saúde e meio ambiente foram os principais temas das últimas eleições municipais, e continuarão a ser altas que demandarão serem tratadas “cada vez mais com muito carinho”. “Nós temos, no Conselho Nacional de saúde, nos desafiado a tratar também esse tema das mudanças climáticas, pois não existe saúde sem ambiente protegido”, concluiu o presidente do CNS.

Marta de Freitas, do MAM, foi a primeira convidada a participar. Ela abordou os territórios atingidos e impactados pelas atividades da mineração, a “minério dependência e a questão dos impostos”, afirmando que ao se abordar a questão climática é necessário que os movimentos tragam a questão mineral para a pauta do debate público.

“O capital se apropriou da pauta das mudanças climáticas e da necessidade de transição energética. A apropriação dos territórios pelas mineradoras compromete o acesso às águas, principalmente as águas subterrâneas, com impactos da biodiversidade e nas vidas. Não dá para discutir emergência climática sem colocar em debate o modelo mineral brasileiro, que explora, expropria, causa doenças, contamina o meio ambiente e não deixa nada. Como diz o nosso poeta Carlos Drummond, ‘é o maior trem do mundo que leva o minério para fora do país e aqui deixa a gente com o coração partido’ ”, apontou.

Marta acredita que a pauta do clima “está na boca do povo”, e é preciso dialogar com a população, sendo a estruturada de participação social do SUS um espaço consolidado, e com décadas de construção, para que este debate se dê, como correia de transmissão dos valores solidários e vinculados à necessidade de transição socioecológica. “A emergência climática já não é mais algo de cientistas e pesquisadores, ela é real. Eu acho que o Rio Grande do Sul e o Amazonas mostram pra gente que ela já está aqui e não respeita fronteiras. Diante disso, a participação social é um desafio imenso.

O SUS tem diferentes conselhos e comissões em vários locais. É preciso aproveitar todo esse conhecimento da população, com sua participação nos vários fóruns, para poder fazer essa transição socioecológica”, defendeu.

Sergio “Chocolate” Reis, do MST, ressaltou que há 40 anos os Sem Terra já defendem uma reforma agrária que atenda às necessidades das populações com um modelo de produção que “observa a condição da produção, da existência humana e das relações humanas com a terra”, ressaltou.

“Vivemos sob um modelo de exploração, do capital, e isso precisa ser dito. Em relação aos bens da natureza, é um modelo de superexploração de recursos, que hoje imprime um grau tal de contradição no qual a natureza não consegue mais absorver, e começa a dar sinais”, afirmou, dizendo que os mesmos (sinais) são os eventos climáticos extremos “vistos em todas as partes do mundo e do Brasil também”. De acordo com ele, “precisamos fazer ações concretas e que permitam a natureza ir se refazendo na sua dimensão de diversidade e de equilíbrio.

Quando nós falamos em produção de alimento, estamos falando em produção da vida. A saúde passa por aquilo que a gente consome, e pela forma com que o que a gente consome é produzido. Por isso o MST tem, na sua origem, essa responsabilidade e a proposição da agroecologia como um modelo sustentável, que produz a vida, em contraponto ao modelo que hoje é representado pelo agronegócio e sua produção à base de veneno”, apontou.

Moises Borges, do MAB, afirmou que o debate sobre emergência climática precisa ser feito sob o recorte de que “o causador dessas mudanças é o capitalismo, né? Não há dúvidas de que a forma com que o capitalismo explora a natureza, como explora o trabalhador, para a geração de lucro vem gerando esse agravamento sobre as questões climáticas existentes”, ressaltou.

“Para se ter ideia, 14 países concentram 74% da riqueza mundial. Isso é um completo desequilíbrio, e essa riqueza não vem simplesmente do nada, ela vem dessa exploração da terra, da natureza, da água, das formas de se produzir energia, do monopólio e dos cartéis que atuam nestas áreas”, defendeu Moisés, para quem “como em toda exploração ou crise que o capitalismo cria, ele já propõe suas próprias soluções, estas mesmas concentradoras de renda, que entendem o meio ambiente como um novo negócio, abrindo novas possibilidades de lucro. É o que acontece com o chamado ‘mercado de carbono’, por exemplo”.

Por fim, Larissa Barros comemorou a profundidade dos debates no evento, afirmando que as contribuições feitas pelos movimentos sociais presentes ao webinário se relacionam diretamente com o tema da 5º Conferência Nacional do Meio Ambiente.

“A riqueza dessas contribuições que foram colocadas por Marta, Moisés e Chocolate refletem a importância da realização das conferências nacionais, essa oportunidade que a gente tem de processo participativo. A Conferência é uma oportunidade para a gente fazer essa discussão e ampliar a voz da sociedade, trazer a sociedade para o processo de construção de políticas públicas relacionadas ao tema da emergência climática e todos os desafios de adaptação, prevenção e mitigação. Temos a oportunidade de enraizar essa discussão para que as populações mais vulnerabilizadas possam conectar esses temas da própria realidade que as pessoas estão vivendo em seu dia a dia”, defendeu.

A íntegra do webinário pode ser assistida aqui.