MapaMovSaúde marca presença no Congresso de Política de Saúde, da Abrasco

De Mapa movimentos
Participantes da Oficina “Mapa Colaborativo dos Movimentos Sociais em Saúde: construção de uma plataforma wiki para o combate às iniquidades em saúde”, no 5º Congresso Brasileiro de Política, Planejamento e Gestão da Saúde, realizado em 2/11/2024, em Fortaleza (CE).

Com uma oficina e uma mesa-redonda, o Mapa Colaborativo dos Movimentos Sociais em Saúde – MapaMovSaúde – participou ativamente do 5º Congresso Brasileiro de Política, Planejamento e Gestão em Saúde, realizado entre 2 e 6 de novembro, em Fortaleza. Além de marcar presença num dos mais importantes eventos do setor saúde do ano, organizado pela Associação Brasileira de Saúde Coletiva – Abrasco, as atividades promovidas pelo projeto ampliaram o conhecimento sobre a cartografia colaborativa e as potencialidades da ferramenta.

Intitulada “Mapa Colaborativo dos Movimentos Sociais em Saúde: construção de uma plataforma wiki para o combate às iniquidades em saúde”, a atividade aconteceu no dia 2, durante o período prévio do congresso, no campus da Universidade Federal do Ceará.

Pela manhã, representantes de 10 movimentos locais e nacionais conversaram sobre o cenário atual da participação da comunidade e do controle social na área da saúde e de como as iniquidades em saúde presentes nos territórios, como problemas no saneamento básico, acesso à água e alimentação adequada e saudável andam em paralelo com as iniquidades digitais, como o acesso à banda larga, as limitações de navegação na web impostas pelas operadoras de celular e a hegemonia das redes sociais e a força dos algoritmos das big techs. Como contrapartida a esse cenário, Lucia Souto, assessora especial de participação social e diversidade do Ministério da Saúde (APSD/MS), destacou o papel do MapaMovSaúde como uma ferramenta para movimentos e organizações organizarem lutas e potencializarem agendas sobre essas iniquidades, ampliando as formas de luta pelo direito à saúde. Fernando Pigatto, presidente do Conselho Nacional de Saúde (CNS); Carlos Fidelis, presidente do Centro Brasileiro de Estudos em Saúde (Cebes) e Marcelo Fornazin, pesquisador da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, integrantes da coordenação do projeto.

À tarde, as pessoas presentes puderam explorar o MapaMovSaúde, navegar pelos mais de 80 movimentos inscritos e criar seus perfis e as páginas das suas próprias organizações. Raquel Nepomuceno, dentista e servidora pública da secretária municipal de Fortaleza, foi uma delas. Militante do Movimento Eu Defendo o SUS, ela destacou a validade do encontro. “A Oficina mostrou como a ferramenta possibilita os movimentos se fortalecerem e ampliarem o trabalho na área da saúde”, disse ela, satisfeita em ter aberto a página do movimento.

Conheça a página do Eu Defendo o SUS, aqui no MapaMovSaúde

Fazer ciência pela participação: No terceiro e último dia do Congresso, a mesa-redonda “A Ciência Participativa para o SUS” juntou ativistas e pesquisadores para dialogarem sobre as diferentes articulações da produção do conhecimento pelos próprios movimentos sociais e ações comunitárias. Essas foram as experiências trazidas por Valnice Paiva; Porakê Munduruku, e André Lima. A mediação foi de Marco Akerman, da Faculdade de Saúde Pública da USP.

A educadora popular e professora da Universidade do Estado da Bahia (UNEB), Valnice Paiva apresentou as ações desenvolvidas pelo grupo de pesquisa Tecnologias, Inovação Pedagógicas e Mobilização Social pela Educação (Tipemse) junto com crianças do bairro da Cabula e de demais periferias de Salvador. Por meio da confecção de brinquedos de madeira, papel e pano, Paiva conversa com a criançada temas relacionados à educação e promoção da saúde, num processo de pesquisa-ação participativa no qual o brincar livre, sobretudo em espaços públicos, visa à conscientização, ao protagonismo infantil e ao desenvolvimento humano.

“Houve criança que chegou a ficar triste por não ver seu nome na capa da tese, tamanho envolvimento e ligação que sentem com o projeto”, ressaltou a pesquisadora, sempre destacando que as crianças são as principais produtoras dos conhecimentos desenvolvidos nas oficinas e atividades nas quais o grupo Tipemse participa, como o projeto “Uneb Parque”, realizado mensalmente, sempre no último domingo de cada mês em um dos campus da universidade. Saiba mais sobre o grupo de Pesquisa Tipemse e o Uneb Parque.

Da região metropolitana de Belém do Pará, Porakê Munduruku, do Tekó - Coletivo de Artivismo Indígena, apresentou a ideia de ‘munbeusara’, o contador, a pessoa que faz o registro oral das histórias e das lendas de seu povo.

Conheça a página do Tekó - Coletivo de Artivismo Indígena, aqui no MapaMovSaúde

“Ele é o guardião e divulgador das memórias, mantendo viva a cultura de um povo. A figura, a prática de ‘munbeusara’ nos fazem refletir sobre o que é a ciência e a participação. Na ciência do colonizador, o Brasil começa quando ele desembarcou das caravelas, mas nós já tínhamos nossas sociedades, nossas culturas, toda uma consciência anterior à violência colonial”, marcou Porakê.

Para a superação das formas e visões colonialistas que a Academia e a Universidade tratam e se aproveitam dos conhecimentos indígenas, Porakê defende que qualquer conhecimento produzido com as comunidades tradicionais e povos originários não pode ser apenas uma “parte”, da pesquisa ou do conhecimento, mas a sua unidade, o que produz, orienta a produção e sabe que tal conhecimento desenvolvido deve ser de benefício àquela cultura, pois senão, é só a repetição das formas de exploração.

André Lima, pesquisador-militante da comunidade de Manguinhos, no Rio de Janeiro, e integrante da Coordenação de Cooperação Social da Fundação Oswaldo Cruz, e da equipe de mobilização do MapaMovSaúde, fez coro às ideias de Valnice Paiva e Porakê Munduruku.

“Nossas comunidades e territórios são muito potentes e durante anos recebiam os pesquisadores de braços abertos. Porém, se cansaram de não ter nenhum retorno dos conhecimentos passados. É o momento de comunidades, movimentos e territórios fazerem suas próprias pesquisas, seus próprios levantamentos”, afirmou, destacando o MapaMovSaúde como uma estratégia válida para a construção dos conhecimentos comuns e compartilhados.